Sustentabilidade humana está diretamente relacionada com a neurobiologia

Flávia Lippi
4 min readNov 25, 2022

Embora a dimensão de sustentabilidade seja discutida dentro do conceito de ESG, empresas e líderes precisam contemplar também a sustentabilidade humana — essencial para o bem-estar pleno e intrinsecamente ligada à biologia de nossa espécie

As discussões acerca de sustentabilidade vem ganhando espaço no meio corporativo. Segundo artigo publicado na revista Exame, o termo ESG — sigla em inglês que representa as áreas ambientais, sociais e de governança (environmental, social and governance) — surgiu para guias os esforços das empresas com relação à sustentabilidade em todos os seus aspectos. O termo foi criado em 2004 por um grupo de trabalho voltado ao investimento sustentável ligado à Organização das Nações Unidas (ONU).

Porém, embora o ESG tenha servido como um norte nos avanços em várias empresas com relação a iniciativas de sustentabilidade, existe ainda um aspecto essencial que não é contemplado: a sustentabilidade humana.

“A sustentabilidade humana contempla todo o ESG e adicionar um conjunto de ações que garantem a própria perpetuação da nossa espécie, incluindo o equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual”, afirma Flávia Lippi, especialista em neurociências, comportamento, saúde mental e inovação nas relações de trabalho.

Para a especialista, a sustentabilidade perpassa obrigatoriamente pelas questões humanas, incluindo o equilíbrio, a escolha da bondade, a ética, a compaixão. Sem isso, o termo é esvaziado ao não contemplar também a humanidade como espécie e sua relação com o planeta.

“Em 1972, aconteceu a primeira Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, na Suécia, para discutir o meio ambiente, seus recursos e as ações sofridas pelas atividades humanas. Naquela época, já deveria ter sido chamado de sustentabilidade humana”, completa Flávia Lippi.

A importância da neurobiologia na sustentabilidade humana

Ao observar a maneira como serão supridas as necessidades das gerações presentes e futuras, com os recursos naturais, físicos, mentais e espirituais, é possível discutir a sustentabilidade humana em todos os seus contextos.

Para isso, considera-se essencial o acesso permanente à educação, cultura, esporte, lazer, assistência médica e todos os aspectos que permeiam a perpetuação da vida de comunidades. Isso garante a gerações futuras uma nova possibilidade de traçar seu futuro.

Porém, Flávia Lippi aponta que para reconhecer e entender isso, é preciso conhecer e respeitar outras culturas — seja as culturas das organizações e, principalmente, a cultura ancestral de todos os povos.

“A sustentabilidade organizacional, aquela que acontece dentro das empresas, e também a que está presente nas comunidades, é um debate sobre identidade cultural. Isso inclui discussões sobre autoafirmação, pertencimento de grupos e a própria identidade como espécie”, comenta Flávia Lippi.

O neuroeconomista Paul Zak, da Claremont Graduate University, estuda um conceito conhecido como a molécula da confiança. Suas pesquisas no campo da neurobiologia provam que a ocitocina, um hormônio produzido pelo corpo humano, é capaz de tornar as pessoas mais empáticas, disponíveis e com maior confiança umas nas outras — mesmo no caso de estranhos ou desconhecidos.

Com isso, o pesquisador traz a união entre sustentabilidade e saúde mental. Ao reconhecer seu pertencimento em determinado lugar e cultivar bons relacionamentos, cada vez mais pessoas estão abertas a acolher e ter comportamentos cooperativos, bondosos e pró-sociais, valorizados em todas as culturas do planeta.

Flávia Lippi e Dr. José Raimundo Lippi, cofundadores do IDHL, colocam em prática a sustentabilidade integral há mais de 20 anos. Na primeira semana de dezembro de 2022, estarão mergulhados com uma equipe de saúde mental atendendo voluntariamente as populações ribeirinhas. São horas de barco e locais remotos, que recebem os profissionais levados pelo IDHL. A ONG local do Grupo Girassóis mapeou os pontos mais urgentes, onde crianças e adolescentes serão atendidos. Além disso, psicólogos, assistentes sociais e médicos aprenderão técnicas avançadas de regulação emocional.

Carolina Abilio, mestre em ciência e pesquisadora do IDHL, afirma que o material preparado tem a intenção de oferecer recursos para que os participantes aprendam a cultivar níveis cada vez maiores de bem-estar emocional. O material tem base no CEB, programa Cultivating Emotional Balance, desenvolvido por Paul Ekman, psicólogo que dedicou-se por décadas ao estudo das emoções, e Alan Wallace, físico e estudioso das tradições meditativas. O CEB resultou de um encontro do Mind & Life Institute em março de 2000, onde discutiu-se acerca do tema: emoções destrutivas.

Além disso, o IDHL atenderá também a tribo Turuma, aldeia Sateré, no Parque das Tribos, e mais de 35 etnias localizadas aos redores de Manaus. A líder Indígena Lutana, cacique responsável por receber a equipe, vai trocar conhecimento ancestral com base na medicina do conhecimento, como os indígenas chamam as ervas, as tradições de cura, e contar com a colaboração do “homem branco” para entender os casos mais graves que necessitam da ajuda dos especialistas em saúde mental e emocional.

Flávia Lippi afirma que o respeito absoluto e amizade com os povos da mata, que a recebem há mais de 20 anos, não só moldou seu olhar sobre a vida, mas também abriu portas para um conhecimento que jamais deverá ser perdido. Completa dizendo: “a sustentabilidade é investir em passado, presente e futuro sem gastar a fonte maior de existência dos seres humanos. Quando é investido tempo compassivo, tem-se efetivamente uma sustentabilidade local, da vida, do ambiente, e de todos os povos que fazem o nosso planeta”.

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Flávia Lippi

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